Minha contribuição aqui é a de identificar e verticalizar grandezas e referenciais teórico-metodológicos que possibilitem a carpintaria de uma História do Tempo Presente como campo de investigação. A partir do entendimento do ensaio como alegoria da escrita sobre o nosso tempo, entendo que quando ensaiamos, antes de tudo, ensaiamos a nós mesmos. Da mesma maneira, escrever sobre o tempo presente é procurar uma grade de análise e inteligibilidade sobre nós mesmos.
A título de apresentação, eis a definição que Jean-Pierre Rioux dá a este campo historiográfico: “Um vibrato do inacabado que anima todo um passado, um presente aliviado de seu autismo, uma inteligibilidade perseguida fora de alamedas percorridas, é um pouco isto, a História do Tempo Presente
[1]”. Sobre os motivos que teriam levado ao desabrochar deste campo historiográfico, comentam Agnès Chaveau e Philippe Tétart que seriam a história renovada do político, o impacto de geração e o fenômeno concomitante de demanda social
[2]. Para estes dois autores, esta modalidade historiográfica seria tributária dos anos de 1950, quando a sociedade demandava esclarecimentos a respeito dos traumas que vivera. Essa produção histórica, simétrica à demanda social, teria como raízes ainda o “aumento e a aceleração da comunicação, a renovação progressiva da imprensa e da edição, a elevação do nível de estudo e a força dos engajamentos ideológicos, morais, dos anos 50-60
[3]”. Agnès Chaveau e Philippe Tétart comentam que este campo se ampara no pressuposto metodológico de que a história não é somente o estudo do passado, mas também, “com um menor recuo e métodos particulares, o estudo do presente
[4]”.
[1] RIOUX, Jean-Pierre. Pode-se fazer uma história do presente? In: CHAVEAU, A.; TÉTART, P. (Orgs.). Questões para a história do presente. Bauru/SP: EDUSC, 1999, p.39-50. P. 50.
[2] CHAVEAU, Agnès; TÉTART, Philippe. Questões para a história do presente. In: CHAVEAU, A.; TÉTART, P. (Orgs.). Questões para a história do presente. Bauru/SP: EDUSC, 1999, p. 07-37. P. 15.
[3] Idem, p. 17.
[4] Ibidem, p. 15.